A carne
Existem três razões pelas quais não devemos consumir nenhum tipo de carne: compaixão pelos animais; destruição do meio-ambiente; e danos à nossa própria saúde.
A principal dentre elas é ter compaixão pelos animais. Alimentar-se de uma fruta que cai da árvore ou de uma planta que nasce no solo não envolve nenhum tipo de violência ou sofrimento. Os vegetais se oferecem aos famintos sem nenhum tipo de resistência. Por outro lado, o animal irá fugir ou atacar aquele que tentar tirar sua vida. O sofrimento demonstrado por um animal que está sendo abatido é intolerável. Somente aqueles que estão nos níveis mais densos da ignorância, conseguem ficar indiferentes à tamanha crueldade. Somente aqueles que perderam a ternura, a compaixão e o amor pelo próximo são capazes de compactuar com este que é de longe o maior de todos os holocaustos. Não houve e nunca haverá nenhuma razão plausível que justifique a morte de um animal para saciar a fome humana. Nem mesmo se estivéssemos diante de uma escassez de alimentos, o consumo da carne seria justificável, pois carne não é e nunca foi alimento para nós. É preferível morrer de fome, mas com dignidade, ao ter que matar um outro ser cuja vida não é menos importante do que a minha.
É comum dizerem que precisamos comer carne para obter proteínas e vitaminas, mas isso não é verdade. Podemos obter suficiente quantidade de proteínas consumindo todo tipo de grãos, vegetais e laticínios. Assim como existem milhares de famílias que, por milhares de gerações, nunca consumiram nenhum tipo de carne ou ovo, podemos citar também o exemplo de dezenas de atletas campeões em diversas modalidades que, após adotarem uma dieta vegetariana, obtiveram um desempenho muito melhor. Sem falar nos próprios animais como o touro, o elefante e o rinoceronte que, mesmo sendo vegetarianos, exibem uma enorme força física e volume muscular. Desse modo, cai por terra o argumento de que uma dieta vegetariana é pobre em proteínas, vitaminas etc. Problemas de saúde qualquer pessoa pode ter, seja ela vegetariana ou não. E caso sejamos diagnosticados com alguma deficiência nutricional, isto pode ser corrigido através de suplementos ou jejuns que ajudam o organismo a se reequilibrar.
Além disto, a constituição e o metabolismo humano não possuem características de um carnívoro. Ao contrário, nossos dentes, saliva, ácido gástrico, intestinos etc são os mesmos de um herbívoro. Uma vez dentro de nosso longo intestino, a carne apodrece e causa uma série de doenças, principalmente o câncer. Portanto, adotar uma dieta vegetariana, é natural e saudável.
De acordo com o Ayurveda, a carne pertence à categoria de alimentos no modo na ignorância, ou tamásico. Uma vez sob a influência da ignorância, a mente se torna obscura, incontrolável, refém da ira, da luxúria e da insensatez. Além disso, o coração se torna cruel, impiedoso e incapaz de conceder misericórdia aos demais. Se um leão mata uma corsa para se alimentar, não há nenhum tipo de violência neste ato, pois esta é a dieta prescrita por Deus para este tipo de animal. Mas quando um ser humano se alimenta da carne de outro animal é considerado um pecado, um ato de violência covarde, considerando que a morte daquele animal não pertence à cadeia alimentar do ser humano, principalmente, quando este animal é oriundo de fazendas de abate, onde é mantido confinado sob as condições mais tortuosas e insalúbres.
A palavra em sânscrito para carne é mamsa. Mam significa ‘eu’, e sa significa ‘ele’. Mam sa khadatiti mamsah: “Aquele que eu como hoje me comerá amanhã. Estou tirando a vida dele agora, então na sua próxima vida, ele terá a oportunidade de tirar a minha. Eu me tornarei um animal e ele um ser humano. Assim, ele poderá se vingar”.
No Rig Veda está dito: “A carne dos animais só é obtida depois de matá-los e isso é um pecado. O matador de animais jamais entrará na morada celestial. Todos os envolvidos em matar, ajudar a matar, consentir o ato, transportar, vender, comprar, cozinhar e comer são igualmente pecaminosos e responsáveis pela morte dos animais”.
Hoje, a feroz indústria da carne é a principal responsável pelo desmatamento de nossas florestas, poluição dos rios e mananciais, extinção de fauna e flora etc. Mencionar todos os dados estatísticos aqui seria demasiado, mas estes podem ser encontrados facilmente na internet. Mesmo que a carne fosse o melhor alimento do mundo, ela seria o pior negócio para o planeta.
O ovo
Mesmo não sendo galado, o ovo também pertence à categoria de alimentos tamásicos por ser considerado como carne líquida. Se for galado, o problema só aumenta, pois estará incluído a morte de um animal.
Alho, Cebola, Cenoura e Lentilhas Vermelhas
Os Vedas contam que, certa vez, a esposa de um rishi (sábio), o qual estava prestes a realizar um sacrifício gomedha (após o sacrifício, a vaca recebe um corpo jovem e desfruta de prazeres celestiais, sem sentir qualquer tipo de dor), estava grávida e manifestou um desejo intenso de comer. Ela tinha ouvido que se durante a gravidez tem-se o desejo de comer algo, mas não o satisfaz, o bebê terá sempre saliva caindo de sua boca. Desejando comer a carne da vaca que estava sendo sacrificada, ela aproveitou-se de um momento em que seu marido se ausentou do local e roubou um pedaço. Após concluir o sacrifício e recitar todos os mantras para que a vaca renascesse, o rishi percebeu que faltava uma parte do corpo da vaca. Ao entrar em meditação para tentar descobrir o que havia ocorrido, o rishi vislumbrou que sua esposa havia roubado um pedaço de carne durante o sacrifício. Pressentindo que seu esposo já sabia de seu delito, ela jogou o pedaço de carne no meio do mato. Devido ao efeito dos mantras proferidos pelo rishi, havia vida naquele pedaço de carne. Então, ao entrar em contato com a terra, o sangue transformou-se em lentilhas vermelhas, os ossos transformaram-se em alho e a carne, em cebolas e cenouras vermelhas. É por esta razão que estes alimentos são considerados como sendo carne e quebram o princípio do vegetarianismo, de acordo com os Vedas.
Cebola e alho são membros botânicos da família aliácea (alliums), junto com alho-poró, cebolinha-francesa e cebolinha-asiática. Segundo o Ayurveda, os alimentos são agrupados em três categorias - sátvicos, rajásicos e tamásicos - alimentos nos modos da bondade, paixão e ignorância. Cebola, alho e outras plantas aliáceas são classificadas como rajásicas e tamásicas, o que significa que aumentam a paixão e a ignorância.
Aqueles que aderem à culinária pura da Índia, ao estilo brahmana, gostam de cozinhar apenas com alimentos sátvicos. Esses alimentos incluem frutas, vegetais, ervas, laticínios, grãos, legume se castanhas. Alimentos rajásicos e tamásicos são prejudiciais à meditação e práticas devocionais. "Alho e cebola são rajásicos e tamásicos, e são proibidos aos iogues porque enraízam a consciência com mais firmeza no corpo", diz a reconhecida autoridade do Ayurveda, Dr. Robert E. Svoboda.
Alho e cebola são evitados por adeptos espirituais porque estimulam o sistema nervoso central e podem perturbar os votos de celibato. O alho é um afrodisíaco natural e o Ayurveda o recomenda como um tônico para a perda de poder sexual. Diz-se que é especialmente útil para homens idosos com alta tensão nervosa e poder sexual decrescente. No entanto, existe uma maneira adequada de se prepará-lo para evitar os efeitos colaterais. O alho in natura pode transportar bactérias potencialmente fatais que levam ao botulismo. Talvez fosse ciente disto que o poeta romano Horácio tenha escrito que o alho é "mais prejudicial que a cicuta".
Os taoístas perceberam há milhares de anos que as plantas da família aliácea eram prejudiciais aos seres humanos em seu estado saudável. Em seus escritos, o sábio Tsang-Tsze descreveu os Alliums como os "cinco vegetais quentes perfumados" - que cada um tem um efeito prejudicial em um dos cinco órgãos a seguir: a cebola é prejudicial para os pulmões, o alho para o coração, o alho-poró para o baço, a cebolinha-francesa para o fígado e a cebolinha-asiática para os rins.
Tsang-Tsze disse que esses vegetais pungentes contém cinco tipos diferentes de enzimas que causam "reações de hálito repulsivo, odor desagradável da transpiração e das fezes, levam a indulgências obscenas, e causam agitação, ansiedade e agressividade, especialmente quando consumidos crus".
Um quadro semelhante é descrito no Ayurveda: 'Além de produzirem respiração ofensiva e odor corporal, essas plantas (aliáceas) induzem a agitação, ansiedade e agressão. Assim, elas são prejudiciais física, emocional, mental e espiritualmente'.
Nos anos 80, em sua pesquisa sobre a função cerebral humana, o Dr. Robert C. Beck descobriu que o alho tem um efeito prejudicial no cérebro. Ele descobriu que, de fato, o alho é tóxico para os seres humanos porque seus íons de hidroxila penetram na barreira hemato-encefálica e são venenosos para as células cerebrais. O Dr. Beck explicou que, na década de 1950, era sabido que o alho reduzia o tempo de reação de duas a três vezes quando consumido por pilotos que realizavam testes de vôo. Isso ocorre porque os efeitos tóxicos do alho dessincronizam as ondas cerebrais. "O cirurgião de vôo aparecia todos os meses e lembrava a todos nós: "Não ousem tocar alho 72 horas antes de pilotar um de nossos aviões, porque isso diminuirá seu tempo de reação de duas a três vezes".
Cogumelos
Os cogumelos também não são consumidos pelos iogues pois são tamásicos.
O Leite
No Bhagavad-gita (10.28), Krishna declara: “dhenunam asmi kamadhuk – dentre todas as vacas Eu sou Kamadhenu, a vaca que satisfaz todos os desejos”. A dinastia sagrada das vacas descendentes do mundo transcendental é chamada de Surabhi, que é uma expansão da energia divina de Krishna. Dois nomes de Krishna são Govinda, Aquele dá prazer às vacas, e Gopala, que significa vaqueiro. As vacas fazem parte da vida de Krishna e Ele sempre as protege. A vaca é considerada como uma mãe e é o símbolo do planeta Terra, Bhumi-devi. Todos os 33 milhões de semi deuses habitam no corpo de uma vaca que é chamada de Aditi, a mãe dos semi deuses.
Essas vacas indianas podem ser facilmente identificadas pela corcova, pela curvatura anterior da anca e pelo excesso de papada. Nelas existe também um canal de energia sutil chamado surya-khetu-nadi, que é responsável pela produção do ouro presente no leite e do cobre presente na urina da vaca. Além destes, estão presentes no leite e seus derivados inúmeros nutrientes extremamente benéficos para a saúde de qualquer indivíduo. Há milhares de anos, derivados do leite como o ghī vêm sendo utilizados pela medicina e culinária ayurvédica, bem como na execução de práticas ritualísticas sagradas. No entanto, suas propriedades medicinais são ainda pouco conhecidas pela medicina moderna.
As vacas são extremamente auspiciosas, trazem paz, prosperidade e proteção contra diversos males. Elas são afetuosas e tranquilas. São seres no modo da bondade, sattva-guna. Para você rearmonizar seu campo áurico, basta abraçar um bezerro por vinte minutos. O esterco da vaca é utilizado para purificação de ambientes como defumador, é bactericida, combustível para o fogo, adubo e suas cinzas também são usadas como medicamento. Durante o período áureo da civilização védica, presentear alguém com uma vaca era sinal de grande honra e respeito. Por este motivo, os reis doavam centenas de milhares de vacas todos os anos.
A despeito do bem que o leite da vaca sagrada indiana faz, infelizmente não podemos atribuir os mesmos benefícios ao leite da vaca europeia, a qual não possui as mesmas características físicas da indiana. O leite da vaca europeia (A 1) não é igual ao da vaca indiana (A 2) e, portanto, não pode oferecer os mesmos benefícios. Por apresentar um desequilíbrio proteico, este leite pode causar alergias, infecções e até mesmo câncer. Uma breve pesquisa na internet sobre seus componentes químicos pode esclarecer tudo isso facilmente. Portanto, antes de fazermos do leite um vilão, devemos saber distinguir entre estes dois tipos, para não propagarmos desinformação.
Todavia, diante da atual conjuntura, tornar-se vegano passou a ser uma necessidade para muitos, tendo em vista a presença de uma indústria de laticínios cruel e assassina. Mas, isto não significa que todo leite seja produto de uma exploração. Ao longo de milhares de anos, humanos e vacas vem mantendo uma relação extremamente amigável e de suporte mútuo. As vacas se sentem extremamente felizes compartilhando seu leite conosco, desde que sejam tratadas com amor e devoção. Para a cultura védica, as vacas não são apenas animais, mas seres dignos de adoração e louvor. Além disto, quando oferecemos seu leite ao Senhor Supremo Krishna, elas recebem inúmeros benefícios espirituais e nos recompensam com bênçãos e muita prosperidade. Existem dezenas de casos de vacas que vivem nos templos da Índia e dão leite espontaneamente por toda a vida, sem nunca terem tido bezerro, simplesmente para servirem as deidades de Radha e Krishna.
Infelizmente, o veganismo ortodoxo desconsidera a relação entre humanos e animais baseada na cooperação e no serviço comum a Deus, e portanto está fadado à propagar especulações baseadas em ideias extremistas e sem qualquer valor transcendental de cooperação entre as espécies. Toda criação existe para servir ao Criador, não para o desfrute das criaturas. Quando oferecemos um leite a Krishna, Ele tem a capacidade de purificar os pecados envolvidos na produção deste leite e conceder a auspiciosidade máxima a todos aqueles envolvidos no processo de produção, oferenda e consumo.
De acordo com a lei do carma, mesmo as vacas que são maltratadas também tem uma parcela de culpa por estarem naquela situação. Tudo o que nos acomete é fruto de uma ação passada ou reação kármica. Portanto, as vacas que ali se encontram sendo maltratadas, também foram autoras de maus tratos no passado. Quanto a isto não há o que se questionar. É a justiça divina. No entanto, é óbvio que devemos sentir compaixão por elas e tentar ajudá-las. E é por desejar ajudar essas almas a saírem desta condição desfavorável, que oferecemos seu leite a Krishna, para que na próxima vida elas possam encontrar a paz. Oferecer a Krishna produtos da indústria de laticínios é uma das soluções para acabar com ela, pois só Deus é capaz de purificar todos os pecados. Mas este é um tema extremamente esotérico que só aqueles que estão em profunda harmonia com os planos de Deus podem compreender. Considerar-nos culpados ou cúmplices do abate, seria como culpar o bombeiro pelo incêndio, só por que este se encontra na cena do crime. Em duas palestras gravadas no meu canal do YouTube intituladas "O Veganismo e a Cultura Védica", eu abordo este assunto com mais profundidade.
Neste ponto há aqueles que indagam: “Mas se todo mundo passasse a consumir os produtos lácteos e oferecesse a Krishna, então a indústria de laticínios jamais acabaria!”. Em reposta a este absurdo, dizemos: Se todos se tornassem devotos de Krishna, aí sim todo e qualquer tipo de exploração as vacas acabaria, pois seriam tratadas com o devido amor e devoção. Além disto, o consumo de leite dos atuais devotos de Krishna representa uma porcentagem quase insignificante dentro deste gigantesco mercado consumidor. No entanto, nossa atitude de oferecer a Krishna este leite, proporciona uma alívio gigantesco para as vacas, que terão um incalculável benefício espiritual. A mudança de paradigma gera automaticamente uma mudança de atitude. Quem as criou foi Krishna, como diz o verso supracitado, e portanto o desejo natural delas é sempre serví-lO, cabendo ao ser humano ajudá-las nesse processo. As vacas sabem que seu destino será o abate e no seu íntimo desejam que, pelo menos, seu leite chegue até Krishna.
Se as pessoas compreendessem que o sentido da vida é servir o Senhor Supremo Krishna, não haveria espaço para nenhum tipo de violência e apenas o amor reinaria soberano. Então, para nós vaishnavas, as vacas não são apenas merecedoras de cuidado e proteção mas principalmente de adoração e veneração como um ser divino.
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